Meus amigos e minhas amigas, por favor, gostaria que acompanhessem o raciocínio (no meu modo de ver curtinho) do colunista abaixo.
Não vou respondê-lo agora, mas devo fazê-lo nas próximas horas ou dias. Um pobre imbecíl puxador de cavalos (sei la se é assim que chamam os toscos por lá), tipo farrista, que como diferencial tem apenas a condição de articular algumas palávras na forma escrita, certamente por não ter gazeado as aulas de portugues, sob pena de levar umas palmadas no bum bum em casa.
No mais, um ignorante que desconhece por completo a historia da luta pelos direitos dos animais, que só no Brasil tem mais de tres décadas, tendo começado por volta de 1981 - e o que vou dizer a seguir é fato e poderá surpreender muita gente - para combater a farra do boi em SC, capitaneado, esse primeiro grupo de ativistas, pela querida Sonia Fonseca, ainda em atividade em São Paulo.
Vou responder em breve o mocinho do jornal que escreveu bobagens e deixou claro, pobrezinho, que a agua lhe tocou os pés, nativo da região, certamente, desesperado, não entendeu que não lutamos por desfazer essa ou aquela cultura, germânica ou açoriana (no caso da farra do boi), mas contra os maus-tratos aos animais, estejam estes encobertos por rótulos como tradição, esporte, entretenimento ou qualquer outro.
Acompanhem abaixo.
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Pobres animais1 - Maicon Tenfen, Jornal de Santa Catarina 30/03/2011
Pobres animais (1)
No princípio dos anos 1990, quando uma coalização de países ocidentais comandada pelos Estados Unidos expulsou as tropas de Saddam Russein do Kuwait, mais de 100 mil soldados iraquianos perderam a vida (ainda que controversas, as baixas civis também foram numerosas).
Obviamente motivada pela disputa dos poços de petróleo da região, essa movimentação carniceira ficou conhecida como Guerra do Golfo, ou, para os cínicos, Guerra do Videogame, já que, ao contrário do que ocorreu no Vietnã, não pudemos assistir ao sofrimento das vítimas, fossem dos inimigos iraquianos ou dos aliados americanos.
O máximo que chegava aos nossos olhos eram imagens captadas por câmeras instaladas nos mísseis “inteligentes”. Teleguiados por computador, era como se fossem capazes de acertar apenas os alvos militares, nunca as escolas, os hospitais e os bairros residenciais das cidades iraquianas.
Diante das reportagens produzidas pela CNN, a classe média mundial ficou à beira do desespero: havia uma guerra, que coisa horrível, mas faltavam os cadáveres que completariam a indignação do mundo civilizado contra os nefastos interesses do capitalismo petrolífero.
Essa carência, entretanto, foi rapidamente suprida pelos jornalistas que, impedidos de transitar no front e acompanhar a guerra real, resolveram filmar a agonia das aves marítimas que morriam por causa das manchas de óleo espalhadas sobre o oceano. Foi um alívio planetário. Os telespectadores tiveram por quem chorar, e isso representou a salvação da guerra.
– Agora as coisas ficaram claras – pudemos dizer a nós mesmos. – Somos do bem. E eles, que matam os pobres animaizinhos, são do mal.
De lá para cá, lutar pela salvação dos bichinhos – e não dos seres humanos, que não têm jeito mesmo – tornou-se a primeira regra das cartilhas politicamente corretas. Como mostrou a Guerra do Videogame, é muito mais cômodo mobilizar nossos sentimentos em prol dos animais e não dos seres humanos.
Acertou quem imagina que estou tentando pular do Golfo Pérsico para as Puxadas de Pomerode, o que só farei amanhã. Por quê? Além de ser um salto grande e complexo, meu espaço acaba de chegar ao fim.
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Pobres animais2 - Micon Tenfen, Jornal de Santa Catarina, 31/03/2011
Pobres animais (2)
Ontem gastei o espaço da coluna relembrando a Guerra do Golfo, estranho conflito militar em que, segundo a cobertura da CNN, faltavam os cadáveres sobre os quais a classe média mundial – ingênua e influenciável – poderia derramar suas lágrimas e fortalecer seu senso de humanidade.
Felizmente, para a salvação da audiência e do nosso desejo de apontar o dedo para a ignorância humana, jornalistas impedidos de visitar o front filmaram a agonia das aves marítimas que morriam por causa dos vazamentos de petróleo. Se há vítimas na guerra, então recuperamos o nosso direito à indignação. Pronto, resolvido.
É óbvio que as sociedades protetoras de animais já atuavam antes da Guerra do Golfo, mas o episódio das aves marítimas, oriundo de um contexto visceralmente político, pode ser considerado um divisor de águas. A partir de então, sob o pretexto de proteger uma fauna ameaçada por nossos costumes antropocêntricos, os defensores dos animais perderam os últimos pudores de relegar os seres humanos a segundo plano.
E tanto melhor se esses seres humanos forem colonos que põem à prova o vigor dos seus animais (animais que, diga-se já, são cotidianamente usados para puxar arados ou arrastar toras por terrenos inacessíveis aos tratores). Não estou necessariamente defendendo as puxadas, mas só lembrando que, antes de condenar seus promotores, poderíamos tentar conhecê-los e entendê-los melhor. Se, porém, estamos em busca de vilões, essa tarefa será impossível.
Quanto aos que protestam contra as puxadas, seja por passeatas ou cartinhas enviadas ao Santa, reconheço que, herdeiros dessa classe ingênua e influenciável que chorou pelas aves marítimas, formam um grupo com a melhor das intenções.
Justamente por isso, são também propensos ao radicalismo e ao autoritarismo. Quando protestam e tentam se diferenciar dos “maus”, estão em busca da própria salvação, isto é, procuram ressignificar um mundo que lhes parece carente de sentido. Para tanto, de novo sob o pretexto de “praticar o bem”, exigem que todos se comportem conforme as suas regras, suprimindo a individualidade das comunidades periféricas e vociferando para que a vida se padronize cada vez mais.
De resto, assim que as leis suprimirem sua utilidade, os cavalos serão destinados aos frigoríficos.
Não vou respondê-lo agora, mas devo fazê-lo nas próximas horas ou dias. Um pobre imbecíl puxador de cavalos (sei la se é assim que chamam os toscos por lá), tipo farrista, que como diferencial tem apenas a condição de articular algumas palávras na forma escrita, certamente por não ter gazeado as aulas de portugues, sob pena de levar umas palmadas no bum bum em casa.
No mais, um ignorante que desconhece por completo a historia da luta pelos direitos dos animais, que só no Brasil tem mais de tres décadas, tendo começado por volta de 1981 - e o que vou dizer a seguir é fato e poderá surpreender muita gente - para combater a farra do boi em SC, capitaneado, esse primeiro grupo de ativistas, pela querida Sonia Fonseca, ainda em atividade em São Paulo.
Vou responder em breve o mocinho do jornal que escreveu bobagens e deixou claro, pobrezinho, que a agua lhe tocou os pés, nativo da região, certamente, desesperado, não entendeu que não lutamos por desfazer essa ou aquela cultura, germânica ou açoriana (no caso da farra do boi), mas contra os maus-tratos aos animais, estejam estes encobertos por rótulos como tradição, esporte, entretenimento ou qualquer outro.
Acompanhem abaixo.
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Pobres animais1 - Maicon Tenfen, Jornal de Santa Catarina 30/03/2011
Pobres animais (1)
No princípio dos anos 1990, quando uma coalização de países ocidentais comandada pelos Estados Unidos expulsou as tropas de Saddam Russein do Kuwait, mais de 100 mil soldados iraquianos perderam a vida (ainda que controversas, as baixas civis também foram numerosas).
Obviamente motivada pela disputa dos poços de petróleo da região, essa movimentação carniceira ficou conhecida como Guerra do Golfo, ou, para os cínicos, Guerra do Videogame, já que, ao contrário do que ocorreu no Vietnã, não pudemos assistir ao sofrimento das vítimas, fossem dos inimigos iraquianos ou dos aliados americanos.
O máximo que chegava aos nossos olhos eram imagens captadas por câmeras instaladas nos mísseis “inteligentes”. Teleguiados por computador, era como se fossem capazes de acertar apenas os alvos militares, nunca as escolas, os hospitais e os bairros residenciais das cidades iraquianas.
Diante das reportagens produzidas pela CNN, a classe média mundial ficou à beira do desespero: havia uma guerra, que coisa horrível, mas faltavam os cadáveres que completariam a indignação do mundo civilizado contra os nefastos interesses do capitalismo petrolífero.
Essa carência, entretanto, foi rapidamente suprida pelos jornalistas que, impedidos de transitar no front e acompanhar a guerra real, resolveram filmar a agonia das aves marítimas que morriam por causa das manchas de óleo espalhadas sobre o oceano. Foi um alívio planetário. Os telespectadores tiveram por quem chorar, e isso representou a salvação da guerra.
– Agora as coisas ficaram claras – pudemos dizer a nós mesmos. – Somos do bem. E eles, que matam os pobres animaizinhos, são do mal.
De lá para cá, lutar pela salvação dos bichinhos – e não dos seres humanos, que não têm jeito mesmo – tornou-se a primeira regra das cartilhas politicamente corretas. Como mostrou a Guerra do Videogame, é muito mais cômodo mobilizar nossos sentimentos em prol dos animais e não dos seres humanos.
Acertou quem imagina que estou tentando pular do Golfo Pérsico para as Puxadas de Pomerode, o que só farei amanhã. Por quê? Além de ser um salto grande e complexo, meu espaço acaba de chegar ao fim.
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Pobres animais2 - Micon Tenfen, Jornal de Santa Catarina, 31/03/2011
Pobres animais (2)
Ontem gastei o espaço da coluna relembrando a Guerra do Golfo, estranho conflito militar em que, segundo a cobertura da CNN, faltavam os cadáveres sobre os quais a classe média mundial – ingênua e influenciável – poderia derramar suas lágrimas e fortalecer seu senso de humanidade.
Felizmente, para a salvação da audiência e do nosso desejo de apontar o dedo para a ignorância humana, jornalistas impedidos de visitar o front filmaram a agonia das aves marítimas que morriam por causa dos vazamentos de petróleo. Se há vítimas na guerra, então recuperamos o nosso direito à indignação. Pronto, resolvido.
É óbvio que as sociedades protetoras de animais já atuavam antes da Guerra do Golfo, mas o episódio das aves marítimas, oriundo de um contexto visceralmente político, pode ser considerado um divisor de águas. A partir de então, sob o pretexto de proteger uma fauna ameaçada por nossos costumes antropocêntricos, os defensores dos animais perderam os últimos pudores de relegar os seres humanos a segundo plano.
E tanto melhor se esses seres humanos forem colonos que põem à prova o vigor dos seus animais (animais que, diga-se já, são cotidianamente usados para puxar arados ou arrastar toras por terrenos inacessíveis aos tratores). Não estou necessariamente defendendo as puxadas, mas só lembrando que, antes de condenar seus promotores, poderíamos tentar conhecê-los e entendê-los melhor. Se, porém, estamos em busca de vilões, essa tarefa será impossível.
Quanto aos que protestam contra as puxadas, seja por passeatas ou cartinhas enviadas ao Santa, reconheço que, herdeiros dessa classe ingênua e influenciável que chorou pelas aves marítimas, formam um grupo com a melhor das intenções.
Justamente por isso, são também propensos ao radicalismo e ao autoritarismo. Quando protestam e tentam se diferenciar dos “maus”, estão em busca da própria salvação, isto é, procuram ressignificar um mundo que lhes parece carente de sentido. Para tanto, de novo sob o pretexto de “praticar o bem”, exigem que todos se comportem conforme as suas regras, suprimindo a individualidade das comunidades periféricas e vociferando para que a vida se padronize cada vez mais.
De resto, assim que as leis suprimirem sua utilidade, os cavalos serão destinados aos frigoríficos.
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